APLICABILIDADES DA MANOBRA IMELMANN NA VIDA MODERNA (Pt. IV):
Eu tenho lidado com o tempo como se tivesse colocado uma estrela na coleira. Eu acho que ela finalmente é minha — depois de muitos anos — mas parte disso é saber deixar ela ali em cima, por enquanto. Minhas mãos não seguram nada ainda, mas meus olhos estão capturando coisas o tempo inteiro, e isso sempre foi suficiente. Estou numa posição onde tudo o que não acontece agora significa a possiblidade de acontecer no futuro. É igual pescar, tem que ter paciência.
Não tenho me dado ao luxo de deslizar meus dedos em volta com tanta força, porque não é pra isso que eu cheguei aqui. Por enquanto tudo tem que ser um abraço confortável, e acredito que se tem algo que vai ser eterno, é isso. Ainda estamos distantes, e isso nunca me deixou tão feliz. Afinal, é sobre o espaço entre as coisas, não é? É sobre segurar o agora, e tomar fôlego porque ainda tem muito ar depois.
Tenho me sentido em pé na grama alta, assistindo um jardim pelo ultrassom, e vendo a tinta secar. Vendo a roda girar, lentamente, tão lentamente que cada milímetro no instante imediato é invisível a olhos nus, mas no total talvez sejam léguas marinhas. Todo segundo é importante.
Dessa vez eu entrei em outubro com muito cuidado, pra não quebrar nada. Finalmente decifrei um enigma, soterrado ha anos por muitas peças desencaixadas, e agora estou tentando me acostumar com o fato surreal de que talvez a resposta esteja correta. A vida me sussurrou um segredo, mais uma vez.
Essa talvez seja a primeira primavera em um lugar que existe ha muito tempo. Igual assistir televisão pela primeira vez na vida, eu nunca estive tão presente nesse segundo.