As aplicabilidades da Manobra Immelmann na vida moderna (pt. I)

mac
4 min readOct 31, 2019

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Eu definitivamente não comecei outubro com o pé esquerdo, e muito menos ainda com o pé direito. Também não foi fazendo um handstand, não foi dando um mortal pra trás, e, infelizmente, não foi saltando um tanque de tubarões com uma motocicleta. Eu comecei outubro me jogando de cabeça em direção à porra de uma porta de vidro enquanto eu pegava fogo. Foi quase como vender minha alma pro Diabo em um desses “piores contratos já feitos na história da indústria fonográfica”. Eu costumo dizer que não vale a pena esticar suas expectativas pra nada, porque é sempre muito melhor ser surpreendido positivamente do que negativamente por qualquer novidade, mas é muito ruim viver nesse buraco de pessimismo… Eu queria ter uma micro-visão do futuro, que me desse o poder de ver um segundo na frente, só pra poder me preparar psicologicamente. Eu trabalho tanto na ideia de ter esse super poder, que eu praticamente desenvolvi ele. Como o Roger Waters, acho que eu tenho esse tal de “poder incrível de observação”, e também tenho um livrinho preto com meus poemas dentro (também sou um bom cão, mas por enquanto não me jogaram nenhum osso). Outro poder que eu desenvolvi foi o de regeneração. É sério, eu tenho o coração do Wolverine. Já enfiaram tantas facas aqui, que normalmente quando tentam, meu cérebro chama elas pra tomar um café. Mas, no geral, eu vou bem. Quando esse tipo de coisa acontece e eu saio ileso, eu simplesmente me levanto, tomo um banho e tento fazer o menor alvoroço possível. Dou graças que ainda estou vivo, e tento acordar bem no dia seguinte. Eu sou o dublê de todos os personagens que eu atuo. Minha maior habilidade é fazer parecer que não doeu.

É no mínimo peculiar que sempre após uma manobra dessas, o céu fica de cabeça pra baixo. Os dias se tornam noites, e as noites vão parar em lugares que você desconhece, e então você só encontra elas vários meses depois, debaixo do seu travesseiro. Você começa a dormir a tarde toda, e tudo parece ao avesso. Pior ainda é fazer isso em pleno outubro, debaixo desse céu nublado que só chove depois de criar toda uma tensão desnecessária, e quando acontece ninguém quer mais. Mas eu conheço esse mês como a palma da minha mão, e esse ano eu aprendi a fazer as pazes com ele.

Existem dois jeitos de nascer, uns dezesseis de passar pela infância e onze de acabar a escola. Mais de duzentos jeitos de dormir, mas só dois pés pra se levantar de manhã. São quase sete mil idiomas no mundo, seis continentes, e cinco oceanos. 2019 anos (depois de Cristo) até o momento, e oito milhões de carros em São Paulo. Quatro rodas em cada um. Cem bilhões de estrelas na Via Láctea, vinte e sete na bandeira do Brasil, cento e vinte no Mario 64. Grosseiramente, umas sete cores visíveis pelo ser humano. Em média, cento e cinquenta e cinco calorias em um ovo de galinha, e trezentas e dez em um pão de sal. 24 horas por dia. Existem sete bilhões e meio de pessoas na terra, e, no momento que estou escrevendo esse texto, mais seis no espaço. Existem tantos pontos de vista, em tantas realidades paralelas diferentes, que o mínimo que eu posso fazer é ser grato de estar em um deles agora. Eu sou a única pessoa, em toda a existência do universo, que vai ter a experiência de usar meus próprios sapatos e de estar atrás dos meus olhos, então pelo menos eu vou aproveitar essa missão, que eu nem sei de onde veio. É engraçado que atrás de cada par de olhos a física tem suas regras particulares. Eu fui descobrir que, no meu microcosmo, por exemplo, o céu é muito mais pesado de manhã — Levantar as vezes é difícil, mas na maioria das vezes eu dou um jeito. Ah, e eu suspeito que meus fios estejam trocados aqui dentro, porque eu tenho a tendência de sentir com o cérebro e pensar com o coração. É difícil saber o que fazer com tanto poder nas mãos, mas eu penso em alguma coisa. Eu sou bom de improvisar. E eu até que gosto de ainda estar respirando.

Um pouco de contexto histórico pra você: “A manobra Immelman foi criada durante a Primeira Guerra Mundial, por Max Immelman, como uma manobra de combate, de forma a inverter a direção de vôo, trocando velocidade por altitude.” Eu tirei isso de um site sobre manobras de avião, mas é basicamente uma tática natural de sobrevivência no mundo real. Você sabe… desacelerar um pouco pra pegar uma boa altitude, respirar um ar fresco. Me surpreende que tiveram que esperar um piloto alemão que ostentava duas cruzes de ferro tentar a manobra, pra que pudessem dar um nome pra ela. E é basicamente jogar o avião pra cima, ganhando altitude, perdendo velocidade. Física básica, e vivência básica no mundo real, também.

Mas vou pegar leve com o Max... a wikipédia diz que ele morreu com 25 anos. Pelo menos não fui eu dessa vez.

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Written by mac

o universo observável troca de pele e vira ao avesso

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