Palavras só significam coisas dentro dos contextos que se propõem à significa-las. Somos compostos por palavras e descrições. E mesmo assim existimos em qualquer lugar.

Existe um fator de tempo e experiência que diz que minha vida até agora não foi suficiente. Se você contasse a um peixe que passou a vida inteira tentando subir pro lado errado da corrente que ele não sabe nadar, eu acho que seria uma mentira tão grande que ele iria rir da sua cara.

Ser eu mesma, do jeito que foi pra ser, significa ter que passar pela realização de que tinha algo errado desde o início. Eu consigo sonhar com outra realidade, mas a verdade é que a que estamos agora é a única que existe.

Se eu pudesse tornar algum sonho realidade, eu teria outro nome. Teria nascido de noite, em uma curva. Teria ganhado flores de alguém quando era mais nova. Seria invencível porque minha pele faria parte da única massa enorme de matéria que existe. Teria uma deficiência de cálcio mensalmente. Teria dormido em casas de amigas, me culpado menos, me matado menos, me cortado menos no meio.

Se eu pudesse pegar a matéria em volta de mim, e misturar com água, tempo, e muita boa vontade dos outros, eu mudaria de nome, continuaria tendo o corpo que eu tenho, mas por ser composta de palavras e descrições, seria descrita de uma forma que me fizesse sentir como a única massa de matéria que existe agora.

Se não falam meu nome, eu não existo.