Graceland, Minas Gerais

Não toca nada no rádio hoje em dia. Eu tenho dado algumas voltas procurando algum lugar onde eu possa tirar meus sapatos e encostar minha cabeça, sonhando acordada com um momento pra mim mesma. Nem eu sei o que isso significa. Eu já estive em todos os lugares, de muitos jeitos, e o que eu achei mais confortável até agora foi imaginando que tem um próximo lugar pra estar. Estou aqui agora.

Se a gente pega um mapa e vira de lado, com o Oeste no topo, Minas Gerais também brilha como uma guitarra nacional. O triângulo é o braço, o resto é o corpo. A gente só não tem guitarras nacionais, mas sinceramente essa é a parte menos forçada desse paralelo que eu tentei traçar. Vamos forçar mais um? Eu mencionei um corpo. Eu tenho um também. Era só isso que eu queria dizer.

Esses dias eu não me canso mais de pensar nisso. Tenho achado um conforto místico em espelhos. Tenho gostado da minha companhia. Tenho tomado mais cuidado comigo. Tenho dirigido em alta velocidade, mas dormido cedo.

Não toca nada no rádio hoje em dia. A trilha sonora que acompanha minha viagem é um chiado constante do vento, que corta as montanhas no meio de forma muito democrática, porque me corta ao meio também. Por um segundo consigo imaginar que sou tão importante quanto elas. Por um segundo também consigo fazer silêncio, dormir pacificamente. A curva mais importante é o quadril de uma mulher.

É uma terra bonita, mas cheia de gente muito ignorante. Posso estar falando do planeta inteiro ou de Minas Gerais. É longe do mar. Estou falando de Minas mesmo. O que mais é esse Estado se não o centro do mundo? Mas é só isso mesmo. O umbigo de um monstro muito grande.

Pelo menos eu tenho muita segurança de que estou fazendo as coisas com coração. Não que isso seja uma garantia de que vai me levar em algum lugar, mas, sinceramente, é meu melhor chute. Pelo menos eu estou tentando.

Se eu não defender todo amor, todo fim, eu não sei quem mais faria isso. Se eu tiver alguma obrigação agora, não sei quem não terá. Opto por não ter, alguém tem que fazer o trabalho pesado, né? Talvez eu também tenha um motivo pra acreditar que vão me receber bem em Graceland.