“O BICHO”
Quando as sombras se esticam
E eu derramo minha cabeça na cama e quando minhas pupilas dilatam e eu enxergo no escuro
Quando as silhuetas no quarto tomam formas familiares que não estão lá de verdade.
Quando eu fico com medo que um bicho grande com dentes e chifre e rabo e dois olhos amarelos (igual ovo frito) e fome de sangue apareça do nada e morda meu pé! — — — — — — — — — -… eu penso na seleção natural, e porque ela deixou a parte do cérebro que deixa com medo. e a que cresce dente siso na gente.
Eu olho da janela e vejo uma rua
selvagem,
com muro,
barulho,
portão automático,
computador e obelisco
eu ouço uma buzina, eu dou um suspiro.
— — — — — — — — — — — — — -
Eu lembro do meu vô na caverna
afiando a lança de noite
com colar de dente
lutando com o frio
com cara de bravo
e com medo do bicho
Ele da um suspiro,
olha pra lança,
pensa no medo,
e desenha o bicho morto, na parede.
Ele dorme, sem medo.
— — — — — — — — — —
Eu penso no bicho,
Eu penso no medo,
Eu invento a roda,
Eu acendo fogueira.
Por que não faço dinheiro,
Desenhando bicho, na parede?