“QUEM DOMESTICOU A BORBOLETA NO SEU ESTÔMAGO?”

Se minhas contas estiverem certas, nesse ponto você provavelmente já está nadando junto com os peixes grandes. Você está em alto mar, capturado pelas correntes e dando seu máximo pra acompanhar esse ritmo novo das coisas. Você está se esforçando pra caralho pra não ficar pra trás, fritando a cabeça procurando um jeito de entrar em sintonia com tanto barulho em volta. Você está olhando pros lados tentando entender o que é o Novo Normal, e surtando todo dia porque você nunca se deu bem com o Velho Normal, também. Eu imagino que você esteja tentando se acostumar com o tanto que cresceu nos últimos anos, e que as vezes você ainda se assusta com o volume da sua própria voz. Acredito que, nesse ponto, você ainda se pegue rindo na frente do espelho, quando tem uma idéia engraçada, ou quando as sinapses no miolo do seu cérebro resgatam uma memória esquecida — ou uma cena antiga de um desenho animado — e você se surpreende porque ainda não tem tanta certeza assim se crescer é realmente uma boa idéia.

Independente disso tudo, eu tenho muito orgulho de você, e das decisões que você tomou. Eu fico muito feliz de ver o quão longe você chegou, por mais que não pareça que tenha sido tanto assim. É muito zoado mesmo, essa peculiaridade no modo como o tempo se comporta, e o jeito como todo mundo vai reagir em relação a isso. As vezes, você vai chegar em casa depois de um dia cansativo, um daqueles que realmente te colocam pra baixo e fazem você pensar em desistir. Você vai ficar doido pensando “Será que ninguém mais consegue ouvir o som do meu coração batendo…?”, mas vou te contar um segredo. Nada que você faz é vazio. Na verdade é muito bonito! Você é bonito, e tem muito amor em tudo que você fala. Nem pensa em esconder isso só porque alguém te olhou feio. Olha pra cima. Pé no chão. Acredita nessa palavrinha de quatro letras que começa com a letra A, é a única coisa que você não pode perder agora. Tudo que você toca tá cheio desse monte de cor que tem atrás do seu olho, e isso é lindo! por mais que você não enxergue isso hoje. As vezes as pessoas em volta não vão se interessar, mas não larga as coisas que você construiu até agora. Você andou muito, e ainda vai longe. Não desiste!!!!!!! ainda tem muita coisa pra ver, e muita gente pra ver as coisas que você faz, também.

As vezes o tempo escorre da mão da gente, mais rápido do que um picolé derretendo e pingando no calçada em um dia muito quente, mas a gente não precisa ter pressa. Toma seu tempo. Segura bem forte o que seu coração precisar, e não solta. Colhe esse monte de coisa que você plantou sem querer. Acredita em mim, a gente encontra muita coisa por pura coincidência. Se você chegar em um cruzamento estranho, sem saber que caminho seguir… Não entra em desespero. Você vai ver muita coisa independente de onde for. E não olha pra trás!

Na verdade, esquece essa última coisa que eu falei. Vamos olhar pra trás agora. Pensa em todas as pessoas que você conheceu. Olha o monte de amigo que você fez. Lembra de todas as meninas que você andou de mãos dadas, todas as vezes que você se assustou com a borboleta dentro do seu estômago. Todas as vezes que você entrou em parafuso porque seu cérebro começou a fazer sskdkskKDSKVSKSXXZXZZ e seu coração tomou o controle. Lembra do tanto que isso foi divertido. Lembra do sorriso de cada uma delas, e de quem você era em cada uma das vezes que a primavera entrou no seu quarto chutando a porta com os dois pés. Se apaixonar é uma montanha russa daquelas de madeira. A gente sabe que não é perigoso de verdade, mas faz parte da brincadeira achar que vai morrer se algo der errado. Aproveita enquanto vocês estão em alta velocidade, e aperta a mão dela enquanto estiverem subindo. Quando cair, grite bem alto. Se divirta. Sem querer puxar saco, mas você é muito bom nisso. Se apaixonar é divertido, você sabe. Tem dias que, se seu coração estiver no lugar certo, você consegue dormir até em cima de uma bomba atômica.

Você vai gostar disso tudo. Eu tenho certeza que vai. Mas as vezes vai parecer que não. Vai ficar imaginando que, talvez, algumas coisas estão mais difíceis do que deveriam ser. Em algum ponto, pode ser que você comece a se culpar por isso, pode começar a achar que tem alguma coisa errada aí dentro, entre as suas orelhas. Pode achar até que o problema esteja nessa granada de carne crua que fica entre os seus pulmões. Você vai começar a se sentir vazio. Vai achar que não tem absolutamente nada aí dentro. Vai começar a fantasiar com a idéia de desaparecer, de enfiar a cabeça na areia, de mudar de nome, e cortar todas as plantas do mundo com uma espada gigante. As vezes vai ser bem difícil encontrar onde você se encaixa entre a lua e o alto mar, vai parecer que sua existência é desconfortável, que você é a mancha preta no arco-íris. Mas, quando isso acontecer, não hesite em tirar os sapatos. Se joga no chão, tira essa gravata, e respire fundo. Pega leve. Ouve uma música que você gosta, e se permita rir de alguma piada interna entre você e você mesmo. As vezes você não vai encontrar uma melodia certa, e nada vai encaixar mesmo. Paciência. Eu tenho certeza que vai dar tudo certo. Vai ficar tudo bem.