mac
2 min readSep 28, 2022

Quem é você?

Agora sou só uma estrela de olhos redondos que descansa no céu. Me sentindo mais novo do que nunca, mas fazendo minha parte em algo que vai durar pra sempre.

Tenho visto OVNIs. Eu deito na vertical, perto dos planetas, em cima dos muros, debaixo do céu, em qualquer lugar do mundo, desde que você esteja respirando. Com meu telescópio, minhas roupas do corpo e um desejo de ser absorvido pela matéria em volta de mim, igual eu fazia quando era criança. A única coisa que sobrepõe o barulho dos grilos e das folhas cochichando nas árvores é minha cadeira de balanço. Eu decomponho, de um em um, e sou pego pelo vento. Uma brisa leve, porque é só essa que me carrega. Minha carona finalmente chegou, e eu tenho esperado por ela há muito tempo. Estamos indo de volta pra casa, enfim. Eu ouvi você rindo! essa é a viagem mais importante. (Sim, é mesmo)

De repente, eu ainda tenho feridas abertas sob o sol. O mar, o verão, e a areia como testemunha. Olhos por toda parte. Meu sangue no chão, e pássaros negros voando em círculos.

Eu grito. Não me escuto mais. Aos poucos me torno invisível, mas do jeito que só você consegue ver. A gente dobra esquinas, olha pelas fechaduras, senta em cafés, observa os passarinhos, e faz igual eles. É amor igual areia nos sapatos no centro da cidade, inquieto, acordando e vendo um sol nascendo todo dia, como se fosse novidade. É uma canção dos Beatles que eu já ouvi um milhão de vezes, que já estava dentro do meu ipod antes mesmo que eu soubesse andar de bicicleta, mas que, agora, pela mágica do contexto, é sua. É uma dessas canções em silêncio, sem emitir nenhum som. Sou eu escrevendo algo. Barulho em branco. O intervalo entre as faixas. Comunicação não verbal. A gente cruza o olhar e já se entende. Eu entendi, e o tempo parou. Queria que esse segundo durasse pra sempre.

Eu explodi ao vivo, ao ar livre. Sou um confete. Eu existo, e você também, isso não é muita coincidência?

Antigamente o que tinha entre eu e o mundo era a vontade de sentir tudo ao mesmo tempo. Eu estive em muitos lugares, de muitos jeitos, várias vezes, mas, agora… com você. E não tenho nada mais pra contar. Eu estou em silêncio, mas é porque eu te amo. Já disse tudo que eu queria. Desfiz todos os meus nós, e escolhi me amarrar minha mão aqui, entre seus dedos.

Teve um verão que eu gostei muito quando era mais novo. Acabou há muito tempo, mas existe uma combinação secreta que destrava sensações similares. Se bate um vento trazendo um cheirinho de protetor solar enquanto estou de olhos fechados, de pés descalços e pensando em árvores, eu me lembro de ter 17 anos e estar deitado no chão. De repente, hoje não vai ter aula, e não tem pressa. Sou eu, só eu mesmo, e meu skate também, nós voltamos pra casa, e eu durmo de tarde. Enfim, paz.

E quando você fala, mais nada importa. O resto é silêncio. Enfim, paz.

Barcelona, 7.6.22

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Written by mac

o universo observável troca de pele e vira ao avesso

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